sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Destinatário (s.)

 Para meu irmão: Jorge Luiz Saar Armond Júnior




“ destinatário (s.)

é, nas tabelas dos correios, a pessoa que

recebe um presente, uma mensagem,

uma cobrança, ou uma surpresa. é o

alvo do remetente. é o destino de alguma coisa.

 

é, nas tabelas da minha via, a pessoa

que recebe todas as minhas declarações

de amor, os meus versos mais tortos e

minhas tentativas de surpreender. é o

alvo do meu coração. é o destino da minha vida.”

 

Querido irmão,

Fazem exatos quinze dias que meu coração detectou sinais (absurdamente fortes) de saudades. No início, eu não estava entendendo porque algo me incomodava, como se fosse uma pedrinha no fundo do sapato, que não saia. Então os dias foram passando e eu permaneci “ sufocada”. Contei os anos e me assustei: São exatos dezessete anos que envio suas cartas ao céu.

Primeiro, como de costume, xinguei, esbravejei o amor. Devo ter dito com alguma fúria (pois alguns anos são assim) sobre a falta que me faz. Depois, quando a tempestade passou, bem de mansinho, o céu se abriu, então eu sorri e chorei. Só não me lembro a ordem dos fatos, pois é sempre assim. Ano após ano, por dezessete anos.

Queria saber como foi seu dia. Se os seus olhos continuam absurdamente azuis; Se o seu sorriso continua o mais belo e o mais alvo; Se você anda de skate e se faz pipas azuis para as crianças. Queria saber quando você vem me abraçar e também como seria sua vida hoje, aqui, junto a mim. Afinal, como digo sempre: perder quem amamos é conjugar demais o futuro do pretérito.

Hoje eu não consegui te escrever um poema, nem uma história de amor. Porque este ano de 2020 tem sido “ estranho”, embora cheio de aprendizagens, tornou a saudade mais dolorida. Contudo, eu posso te dizer que continuo a usar o escapulário, que quando eu passo em frente á Igreja da Sé eu olho para a torre e sorrio (porque ouço sua voz me chamando lá de cima sorrindo); continuo a fazer “em nome do Pai” em frente ao Rosário e quando a saudade aperta muito e gostaria de sentir algo carnal, material, eu entro na loja de perfumes para sentir o que você usava.

Assim como uma vez eu li: “ não posso impedir o inverno, mas irei tentar me aquecer”. Então me despeço amarrando esta carta em nossa pipa azul com o seguinte pensamento: não posso impedir a tristeza de às vezes chegar, mas sempre irei tentar ser feliz, por nós dois.

Com amor, muito afeto e muita saudade,

Sua irmã, L. 

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