segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Chegadas e partidas


Despertaram-se.

Ele já estava acostumado - pelo tempo - a acordar cedo e sentir a brisa da manhã.
Acordada pelo despertador, com os olhos embaçados, unhas vermelhas agarravam o relógio e pedia mais cinco minutinhos.

Ele já havia tomado banho, feito a barba, penteado os cabelos macios, se vestido e feito seu chimarrão. O cachorro de estimação latira em sua presença, abanando o rabo em tom de bom dia. Afagando o dono, afagado, em resposta, o cão.

Ela quase caindo da cama se arrastou caminho à cozinha, deixara a cafeteira ligada enquanto seguia para o banho.

No banho os dois se encontravam. Ela ouvia Cartola “ Corra e Olha o Céu” para espichar a alma. Ele ouvia algo como Red Hot, para balançar o instante. Tomavam café no mesmo horário, olhavam o relógio, bolsa feita, mochila fechada, portas trancadas. Um dia de estudo. Um dia de trabalho. E assim seguiam a vida. Coincidência?!?

De vez em quando ela sentia falta e surgia um aperto na garganta sem fim. (Dizem que chorar faz com que se sinta um bolo intragável na garganta - poderia ser isso, creio) e logo em seguida balançava a cabeça como se quisesse espalhar aquelas nuvens cinzas trazidas não se sabia de onde.

O caso era que ao entrar em casa, ao cair do dia, vinha um vento quente, empoeirado. E o melhor era abrir todas as portas, todas as janelas que assim corriam os bons ares, pensavam juntos. E colocavam músicas. 

Ela assistia ao jornal, ele ao basquete. Ela quase vegetariana, ele, carnívoro. E assim se davam os pequenos encontros de almas, onde o que os unia era a diferença. E aquilo sim era um charme! A conversa fácil, a vida a girar e a sentir. Entretanto não se conheciam. E todos os dias tinham a sensação de se verem. Em sonho?!? Em amigos em comum?!? Em outra vida?!? No que cada um acreditava?

Era aquele perfume que ela havia deixado o rastro tarde da noite. Era aquele cheiro que ele havia imaginado, e logo em seguida inspirava profundamente tentando tocar a forma. Era sonho?!? Pois em seguida os corpos se desfaziam pelo ar. E tarde da noite, quando houvesse tempestade e ela saísse para olhar a escuridão daquele céu, iluminado em segundos por trovões, ela percebia aquela doce forma a sorrir e tinha um aroma delicioso! Um cheiro de juventude, de menta fresca. Assim ela imaginava que ele o fosse: uma mistura entre paz, prazer e confiança.

Acontece que, no acaso, entram em uma livraria antiga, uma espécie de sebo, e ali ela havia deixado um livro, com uma dedicatória a quem quer que fosse e que poderia ser mais:"Ela disse que ia. Ele disse que vinha. No fim, ficaram no meio do caminho, mornos, intactos, sem se sentirem, sem se tocarem..."

Dessa vez a onda não passaria, a noite não se deitaria. Eles se provariam e quando fosse a hora da partida, não se arrependeriam, pois não mais estariam sós.