"Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete, a cena se inverte
Enchendo a minha alma alma daquilo que outrora eu
Deixei de acreditar
Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você, só enquanto eu respirar"
Querido Juninho,
Hoje eu não sei se sorrio ou se choro. Muito provável farei ambos
com a mesma intensidade; pois perder quem amamos é passar a conjugar muito mais
o futuro do pretérito.
Neste momento, eu sento para te escrever como faço há
dezesseis anos. São algumas cartas que envio ao céu, para que possa ser
entregue ao nosso coração. No intuito de amenizar tudo que sinto (principalmente
neste dia). Costumo não contar o tempo, porque dessa forma eu tento driblá-lo,
esquivando-se da saudade. Mas é inútil, pois a lembrança é diária. E quanto
mais o tempo passa, mas a saudade aumenta.
Hoje, te abracei e o envolvi com ternura, disse a nós dois
que você continua sendo o meu anjo protetor. Sentindo sua falta, ou a sua
procura, ergui os olhos ao céu e disse o
tanto que te amo, assim como te xinguei,
por você não estar aqui fisicamente. Tentei ouvir sua voz e lembrei de você
cantando. Vi o seu sorriso e por um momento senti o seu perfume.
Perder quem amamos machuca. É a falta da voz, do cheiro, dos abraços, do
suor. É a falta de cor, do tom, do brilho. É a casa que fica grande demais. É a música que
acaba. E em tudo que se olha, lá está um
pedaço da pessoa a qual não gostaríamos que tivesse partido. E este pedaço a que me refiro não é material:
você passa a olhar tudo com os olhos da alma. Você se pega refletindo na pessoa
sem saber exatamente por qual motivo seu pensamento te traiu e chegou ali, as
três da tarde de um dia comum. Às vezes doí (e muito). Outras, vem junto com a
dor, a leveza e até alguma sensação de júbilo. E os sentimentos se misturam. Você abana a
cabeça, como que se dessa forma fosse plenamente possível desfazer o
pensamento... Mas não! Impossível, ele te segue. Com este tipo de recordação, simplesmente teremos que
aprender a conviver e a algumas horas a trapaceá-la. Pois a lembrança que surge não escolhe
hora nem lugar.
Amar é estar sujeito a aprender a também abrir mão. Aprender
que as pessoas não são imortais, que certas partidas não duram algumas horas,
um pôr do sol, um mês. Como também, mesmo que se deseje (em demasia) guardá-las
por proteção, não ha como encerrá-las em lugares totalmente seguros.
Sendo assim, eu te vejo e te percebo. Meu irmão
passou nesta Terra como um cometa: brilhou muito, mas em pouco tempo. E como
uma vez escreveu Leonardo Da Vinci: não se volta quando a meta é a estrela. E
dessa forma, nestes momentos saudosos, sei que o seu sopro de vida chega até mim.
São muitos anos pensando no seu abraço.
Dessa forma, te beijo a testa e te digo até logo.
Com amor, sua irmã.
L.
Dedicado a Jorge Luiz Saar Armond
26/04/1980
04/12/2003