quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Strange Fruit - a fruta amarga do racismo




A foto trágica, e famosa, que inspirou Strange Fruit

Embora o tema seja antigo, não consigo imaginar (e muito menos aceitar e entender) como num mundo de tanta diversidade e encontros se desenvolvem pessoas preconceituosas. Podemos, sim, ter preferências, mas não devemos impo-las a ninguém.
O meu "errado", pode ser o seu "certo" e mesmo assim saberei te respeitar sempre.

L.



Sobre a música:


Strange Fruit é uma canção inquietante, que sempre provocou adesões fervorosas e rejeições ferozes quando era apresentada. Por um motivo simples, como registra Margolick (David Margolick, autor do livro Strange Fruit: Billie Holiday e a biografia de uma canção, editora Cosac Naify): ela confronta uma nação (os Estados Unidos) com seus fantasmas mais cruéis. Foi “o primeiro protesto relevante em letra e música, o primeiro clamor não emudecido contra o racismo”.

A “fruta estranha” do título e da letra é o corpo dos negros linchados e enforcados em alguma árvore, onde ficavam sangrando, balançando ao vento. O linchamento de negros, e outras pessoas acusadas de algum crime, era uma espécie de ritual amplamente aceito. Um levantamento conservador indica que, entre 1889 e 1930 ocorreram 3.833 linchamentos, 90% dos quais no Sul, e a imensa maioria eram negros. “Linchamentos tendiam a ocorrer em cidades pequenas e pobres, muitas vezes tomando o lugar, como disse certa vez o famoso jornalista H. L. Mencken, ‘do carrossel, do teatro, da orquestra sinfônica’”.


Era uma perversa e feroz “diversão” popular. Essas pessoas morriam em resposta a uma série de supostos crimes, “não apenas assassinato, roubo e estupro, mas também por insultar uma pessoa branca, por se gabar, por falar palavrão ou comprar um carro. Em alguns casos, não havia infração alguma: era apenas hora de lembrar aos negros ‘metidos’ que eles deviam saber qual era seu lugar.


Margolick endossa a suposição de que a inspiração da canção Strange Fruit tenha sido uma fotografia que, desde a década de 1930, tem sido uma inquietante denuncia visual daqueles crimes coletivos: o linchamento de dois homens negros ocorrido em Marion, Indiana (no Norte, portanto, e não no Sul...). A foto foi amplamente usada como denúncia contra o racismo e Meeropol provavelmente escreveu seu primeiro poema sobre o assunto inspirado nela, que foi publicado no jornal sindical The New Yorker Teacher, em janeiro de 1937.

A música, composta por Abel Meeropol no final de 1937, foi gravada originalmente por Billie Holiday em abril de 1939 e logo apresentada em público no Café Society, uma espécie de clube noturno que reunia socialistas, comunistas, sindicalistas e democratas em Nova York (foi fechado, no começo da década de 1950, pelos caça-comunistas liderados pelo direitista chefe do FBI, J. Edgar Hoover). Foi um choque. Em sua autobiografia, a própria Billie Holiday registrou o impacto: quando terminou de cantar: silêncio total; “então uma pessoa começou a aplaudir nervosamente e, de repente, todo mundo estava aplaudindo”.

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