domingo, 29 de março de 2009

Laços



Essa foi a semana em que acordei com um aperto no coração. O por quê? Ah... Recebemos a notícia por telefone que meu pai seria transferido devido ao trabalho, para outro estado. Para muitos esta notícia pode soar normalmente, mas para mim foi um desastre.

Meu grande pai! Sou louca por ele! Não só por ser o meu pai, mas pela afinidade que temos. É ele que me ensina matemática e as 'manhãs' do autocad! Se quero alguma coisa diferente, que não encontrei, eu desenho, imagino, descrevo e vai o pai fabricar! E se algo que amo muito estragou e tem um jeitinho de dar uma consertada e ficar novinho " paiêê, você dá uma olhadinha...?", e ele, o Jorge Luiz, sorri e arruma! Nunca tem tempo ruim.  Exceto, quando chego bem de madrugada em algum final de semana, com umas duas cervejinhas a mais ou se não atendo o celular (porque realmente o som estava alto e o celular na bolsa... Oras!). Nessas ocasiões, quando chego nas pontas do pés, ele faz questão de dar uma tossida que serve como oração: Larissa, me acordou. Isso são horas, menina? (ou melhor: isso são horas para uma menina?).

Desde criança eu tinha mania de segui-lo e a oferecer ajuda, então aprendi com ele, meu pai, algumas coisas que poderiam parecer inúteis, mas que para mim funcionam perfeitamente, como: desentupir bomba de caixa d'água (algo que meus irmãos não sabem e que a minha irmã, também não faria). A como trocar o pneu do carro, num dia de chuva  na BR 040, o pneu furou com toda família a bordo (e la fui eu me interessar... Creio que quis mais sair do carro para tomar chuva com ele e aproveitar o momento). Com ele, gostava de sentar no passeio e ajudá-lo a lavar o carro, em alguns sábados, mesmo que fosse apenas para eu ficar a molhar meus pés com a mangueira enquanto ele fazia todo o resto.

Juntos plantamos um pé de ipê amarelo em frente a casa. Orgulho de todo dia passar por ele e ver que está maior que do eu. 

Meu pai é sensacional! Certa vez, quando morei fora, ele me ligou de manhãzinha, no intervalo da aula e conversamos durante uns dez minutos dando gargalhadas. Quando desliguei, um colega  perguntou  quem era, respondi “meu pai!”.  Ele logo arrematou “nossa, mas você conversa com seu pai assim? Desse modo???  Eu não... Quem dera...” Respondi dizendo “assim como? Ué! Sempre conversamos assim, assim, sim...”.  Então, eu tenho mais é que agradecer aos céus nosso companheirismo. Essa amizade entre mim e meu pai que transcende a matéria.

Ele tem um sorriso bom! Ele tem os olhos azuis e o brilho deles são de bondade. Ele lia para mim na infância e me contava histórias inventadas por ele (deve ser por isso que agora, relendo este texto escrito em 2009, cinco anos depois, percebo que faço o mesmo com minhas sobrinhas).   Passeava de bicicleta comigo e quando o meu irmão me 'tomou' o lugar de caçula, meu pai, logo deu um jeitinho de colocá-lo na frente e eu na garupa da mesma bicicleta. 

Ele me fez acreditar em Papai Noel,  bruxas, fadas, potes de ouro embaixo do arco-íris e salamandras! Como também me mostrou que as coisas conseguidas de forma muito fácil geralmente acabam no desinteresse. Daí, faltará o valor do esforço despendido. 

Algumas vezes nos sentamos na varanda e conversamos sobre a nossa cidade, meus irmãos, livros, filmes, meus estudos, sobre a falta de humanidade, corrupção, violência ... Outras vezes sentamos na varando à noite para tentarmos ver satélites e o Cruzeiro do Sul. E ficamos lá por horas. 

Minha mãe diz que quando estamos juntos ela não consegue ouvir nenhum programa, que falamos demais e muito alto! Todavia, ela gosta desses momentos, pois estamos sempre reunidos. E os olhos dela brilham.
  
Semana dessas,  brincamos de campeonato de cuspe. Minha mãe bem que reclamou (consigo ver o rosto dela, quase nos xingando - risos), dizendo um “que nojento”...  Enquanto nós dávamos gargalhadas da varanda e a chamávamos para participar também! Coisa que ela nunca faria!

Por essas e outras, foi que na terceira – feira eu tive um acesso de choro. Bem que tentei não chorar, pois pra ele que ia, seria bem pior, afinal o restinho da família estaria  junta. Eu o abracei bem forte, com os olhos vermelhos e ele brincando disse “quer ir comigo, Lala?” É lógico que eu gostaria! Mas completou: “você tem que tomar conta da casa, da sua mãe e dos meninos... Você é a mais esperta deles!” E  piscou!  Eu sorri... Mas nada disso aliviou a partida. Eu fiquei na porta da rua, de pijama, esperando o carro virar a esquina... E cruzando os dedos para que rapidamente ele regressasse. 



PS: cinco anos depois continuamos a nos sentar na varanda em minhas férias. Continuamos a nos telefonar quase todos os dias. O pé de ipê está muito maior do que eu e suas flores amarelas são lindas. Plantamos um bouganville bonina que também é maior do que nós dois agora. Nossa família cresceu mais um pouco e sempre que estamos reunidos marcamos a altura de minhas sobrinhas, suas netas, no batente da porta da sala, onde tem as alturas de todos os que amamos.  (10/08/2014)

2 comentários:

  1. Novas oportunidades de trabalho sempre trazem novas conquistas e novos aprendizados.

    E a distância por mais que doa sempre engradesce as pessoas, tanto as que foram quanto as que ficaram.

    Cada momento junto se torna ainda mais especial e inesquecivel, aproveite cada momento ao lado dessa pessoa que pelo que li é tão especial e grandiosa.

    Beijãoo!!

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  2. ah lala....gostei ...texto ta lindo...
    mas aqui,..vc chegando com "duas"cervejinahs a mais em casa?...so duas mesmo? tem certeza?hauahuhauah

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